Ex-deputado Paes Landim lamenta morte e destaca legado de Niède Guidon para o Piauí e região

Amigo pessoal da arqueóloga Niéde Guidon, o ex-deputado apoio e acompanhou de perto a trajetória transformadora da cientista no Piauí. Em nota, Paes Landim relatou a importância de Niéde Guidon para a ciência e a inserção do Piauí no cenário internacional do turismo ambiental, cultural, histórico e arqueológico.

Afirma o ex-deputado Paes Landim: “Profundamente emocionado, tomei conhecimento nesta manhã, da triste notícia da morte da minha querida amiga Niéde Guidon, ícone da arqueologia mundial, que lutou e criou o mais belo e importante Parque Nacional da preservação do único bioma rigorosamente nacional, o da caatinga. Durante meus 32 anos de mandato parlamentar, um dos meus maiores feitos foi a dedicação à luta de Niede Guidon na consolidação e preservação de um dos maiores patrimônios culturais da humanidade. Não consigo interpretar a minha imensa dor pela perda da maior amiga da minha vida, fonte do meu eterno orgulho”.

O último encontro entre Niède e Paes Landim ocorreu há cerca de 6 meses. O deputado registrou esse encontro em suas redes sociais e, naquela ocasião, escreveu: “Foi com a maior alegria que revi, no mês passado a querida Niède Guidon, uma pessoa extraordinária que aprendi a admirar, a partir dos anos 90. Li, na ocasião, numa revista francesa a sua entrevista sobre o Parque Nacional Serra da Capivara, criado por ela após muita luta. A seguir, o Jornal “Correio Brasiliense” dava conta da sua conferência na Aliança Francesa. Fui assisti-la, onde ela expôs toda a sua luta para a criação e manutenção do Parque.

“Em homenagem a Niède, através de emenda orçamentária de minha autoria junto ao Ministério do Turismo, foi construído o Aeroporto de São Raimundo Nonato, um dos mais belos do Brasil. Também consegui implantar um campus da Universidade Federal do Vale do São Francisco em São Raimundo Nonato e o primeiro curso de arqueologia. Toda a atual construção do campus foi decorrente de emendas orçamentárias de minha autoria. Niède é um monumento, o Piauí não tem ideia do que ela representa atualmente e no futuro.”

Placa em homenagem ao ex-deputado na entrada do Museu do Homem Americano

Niède Guidon: A arqueóloga que fez da Serra da Capivara um território de mulheres fortes

Além de revelar ao mundo os vestígios mais antigos da presença humana nas Américas, a arqueóloga Niède Guidon deixou um legado que vai muito além da ciência. Em sua trajetória como diretora do Parque Nacional da Serra da Capivara, no semiárido piauiense, ela transformou vidas, sobretudo de mulheres, promovendo uma verdadeira revolução silenciosa no interior do Brasil.

Niède, falecida hoje, foi pioneira ao adotar práticas que hoje são vistas como políticas públicas essenciais, mas que, à época, nas décadas de 1980 e 1990, nasciam de sua própria sensibilidade social. Ao formar as equipes que atuariam no parque — desde serviços gerais, manutenção, guias e oficinas de cerâmica — a arqueóloga fez questão de dar prioridade à contratação de mulheres. Muitas delas eram chefes de família, viúvas de maridos vivos, que haviam abandonado suas terras em busca de trabalho em grandes centros urbanos como São Paulo e Brasília, deixando para trás lares, esposas e filhos.

Essas mulheres, frequentemente invisibilizadas e sobrecarregadas, encontraram no projeto de Niède não apenas uma fonte de renda, mas também reconhecimento, dignidade e autonomia. A franco-brasileira que escolheu o sertão piauiense como missão de vida compreendia que o desenvolvimento local não se faz apenas com preservação ambiental e pesquisa acadêmica, mas com justiça social e inclusão.

Mais do que contratar, Niède capacitou. Incentivou a formação profissional, promoveu oficinas, buscou qualificação para as equipes e apoiou o desenvolvimento de cooperativas e iniciativas autossustentáveis — como a tradicional cerâmica em Coronel José Dias e as ações da Fundação Museu do Homem Americano. Seu olhar era o de quem sabia que o verdadeiro patrimônio a ser preservado incluía também as pessoas.

Num país em que o empoderamento feminino ainda enfrenta tantos obstáculos, a arqueóloga se mostrou muito à frente de seu tempo. Ao valorizar mulheres esquecidas pelos sistemas tradicionais de emprego, Niède não só as integrou ao seu projeto como as tornou protagonistas de uma nova história — a história viva de um Brasil profundo e resiliente.

Hoje, ao reverenciarmos a trajetória dessa guardiã do tempo, reconhecemos também a força das mulheres que ela ajudou a erguer. Mulheres do sertão, de mãos firmes e vozes antes silenciadas, que agora ecoam na memória de uma nação inteira, graças ao compromisso inabalável de Niède Guidon com a ciência, a cultura e a transformação social.